Seja bem vindo ao nosso pequeno espaço. Aqui você vai encontrar mensagens, histórias, textos, orações, videos, psicografias e psicofonias colhidas ao longo dos anos. Fique a vontade para comentar e colocar a nossa Casa de Amor e Luz entre os seus favoritos. Não deixe de visitar todas as páginas.

Sagrado e Profano



     De posse de um conhecimento meramente especulativo e segundo um conjunto de regras ou leis precariamente estabelecido como isento de falha, erro ou defeito, o indivíduo, com simplismo ou impropriedade, atribui aos atos próprios como sagrados, e os de terceiros, se não lhes agradam, como profanos. É uma prática um tanto quanto precipitada porque é costumeira a condescendência com as próprias atitudes bem como a contundência com as do próximo.
     É oportuno esclarecer que neste texto não é atribuído ao profano o caráter clerical e sim o traço distintivo daquilo ou daquele que deturpa ou viola as coisas e direitos individuais; da mesma forma, ao sagrado é conferida a qualidade peculiar daquilo que se sagrou pelo uso e costume como bom para o espírito e/ou para o intelecto. As nossas palavras não se abeiram, pois, da Teologia, do Cristianismo, da Teosofia ou do Iluminismo. 
     O mundo está repleto de pessoas que julgam que sua faculdade de agir e também o resultado de suas ações é que estão corretos; que seus vícios não se caracterizam como tal e que todos os pontos negativos que se somam em seu currículo aconteceram por obra e culpa alheia. Para estes, a vida estabelece como direito legítimo ou mesmo suposto, que se faça uma escolha e tal escolha vai se situar sempre entre o profano e o sagrado; entretanto, dessa escolha resta uma certeza irrevogável: escolher uma coisa é renunciar a todas as outras.
     Sob ótica geral talvez o sagrado e o profano para muitos não se qualifiquem como prioritários, mas sabemos que um ou outro podem situar-se nos pequenos detalhes que dão consistência ao dia a dia. Assim, muitos, em atitude descortês, escolhem o profano e se recusam serem perturbados pelo mundo e pelas pessoas ao seu redor, porém por várias vezes e variados motivos se decidem por perturbar tudo e todos. A opção de alguns, em determinada situação, é pelo egoísmo/egocentrismo, que exigem que todos os demais se tornem seus serviçais. Para outros, é o da apatia, pois para estes o sofá foi criado para assistir televisão e não para o exercício do verbo e troca de ideias com os que lhes compartem o lar. Em qualquer situação, diálogo recusado é entendimento perdido. Descartar a gentileza e a prosa significa desprezo à perfeita convivência. É oportunidade posta de lado, sem considerar que esta não costuma se repetir e quando repete, o objeto para o qual converge o desejo, provavelmente já terá perdido o sabor.
     Atitude profana a encontramos no homúnculo que incontáveis vezes escolhe não prestar reverência às pessoas ao negar-lhes o cumprimento, a cortesia, o sorriso, o pedido de desculpas; também é profano a usurpação de espaços restritos ou especiais, não permitindo o direito aos quem têm direitos.
     Os que vivem em sociedade ou em co-participação temporária ou demorada de espaços tem o dever, como elemento integrante, de conhecer e observar os costumes da vida social. Os que se recusam agir ignorando as formalidades e procedimentos que retratam boas maneiras e respeito entre os cidadãos, devem se encaminhar urgentemente ao adestramento...
     A vida é uma seqüência de uniões e separações. Por opção, por imposição ou necessidade ficam para trás, às vezes sem oportunidade de despedida, pessoas, lares e empregos, cuja satisfação deles advindos seria prazeroso usufruir por longo tempo. Se levadas a sério, todas as uniões serão sagradas, porque representam a somatória ou a multiplicação de bens que engrandecem ou esclarecem os agregados; de outro lado, os re-ciprocamente afastados por divergências ou desavenças, não devem jamais assumir o caráter de profanos, ou seja, cada qual atirando para todos os lados na esperança de que o outro seja atingido.
     Lao-tsé, filósofo chinês que viveu no século 4º antes de Cristo afirmava: “a bondade nas palavras cria a confiança, a bondade nos pensamentos cria a plenitude, a bondade nas doações cria o amor”. O ensinamento é oriental, mas a sua prática deveria abranger toda a humanidade. A palavra compreensiva entrelaça a amizade e não a deixa esvair-se. O pensamento sensato organiza e rege a harmonia e o equilíbrio mental. A doação é a materialização do amor. Agindo assim fugimos do profano e adentramos ao sagrado. Necessitamos falar e ouvir palavras doces para que a vida manifeste todos os valores que o profano tenta ocultar. É urgente disciplinar pensamentos e projeta-los apenas quando o sagrado lhes dá matizes multicores. A doação é o braço direito da caridade e assume a fisionomia do sagrado, pois que é a manifestação a sobressair o amor ao próximo e a resumir o amor a Deus sobre todas as coisas.
     A vida não é apenas o que nos acontece, o que fazemos acontecer ou o que se recusa acontecer. Ela é a somatória dos momentos que se arquivaram no passado, dos momentos que impulsiona o presente em busca do futuro. Mesmo que esses momentos não sejam tão bons como é o desejo que fossem, e cabe a cada um administrar a própria felicidade ou tristeza. Alegrias e mágoas são condimentos que temperam o dia a dia às vezes sem consulta ao paladar, e sempre por questões de sobrevivência é aconselhável aceitar o tempero por mais apimentado que seja.
     O filósofo alemão Friedrich Nietzche, talvez escorado pela revolta, afirmou: “Deus está morto”. Não sabemos com que autoridade tenha firmado esse atestado de óbito. Talvez as suas palavras retratem uma alma atolada na solidão, talvez vitimada pela indiferença e desprezo, talvez ferida em suas mais caras aspirações. Hoje nos sobra a certeza de que morto está o filósofo Friedrich e que Deus permanece vivo em bilhões de corações.
     Há pouco mais de dois mil anos, um Homem veio ao mundo para pregar amor, bondade, perdão e humildade. Muitos aprenderam, outros tantos, não! Para os que se demoram aprender, o profano lhes é sagrado; para os que pela conscientização guardaram na memória e nas atitudes esses ensinamentos, o sagrado lhes é profundamente sagrado.
Gérson Gomide

Um comentário:

  1. Nota 10 para esse trabalho. As palavras do Mássimo calaram fundo nas pessoas que haviam perdido seus familiares.

    Lágrimas oportunamente derramadas.

    Um abração

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...