A grande medicina

Palestra do dia 26-07-2011

Que o Grande Manitu abençoe a todos!

     Há alguns séculos atrás eu vivi em um país que fica abaixo do mar. Os guerreiros sabem onde estou falando?

     - Holanda.

     Isso. Nasci de um pai e de uma mãe com muitas posses, que rápido me tornaram um jovem médico, mas para mim só existia uma coisa, o peso do ouro. Aquilo que deveria ser um grande juramento, aquilo que deveria ser feito para curar virou uma profissão para arrecadar ouro. Todos aqueles que traziam e que podiam buscar o ouro e trazer eram muito bem vindos e eu usava todo o que sabia para a busca da cura, ou pelo menos, para amenizar aquilo que vocês homens brancos chamam de sintomas.

     Aqueles sem recursos, sem moedas eu não atendia, não fazia nada, só me interessava por esses quando em minhas mãos chegava alguma coisa nova, alguma fórmula nova e eu queria verdadeiramente saber o resultado, aí sim, eu abria as portas, fazia desses que não tinham recursos testes, mesmo sem saberem, para eu poder experimentar.

     Eu estava com os olhos tampados, e pouco importava se a roupa fosse branca, mas na verdade a minha alma estava negra.

     Caminhava por esse caminho, por que julgava que aqueles que tinham o recurso, que tinham o ouro, é por que o Grande Manitu permitia e eles mereciam a cura, os outros, não.

     Sofri muito, vim para esse lado com uma grande dificuldade, e depois de muitas e muitas luas de entendimento eu fui buscar em uma pele vermelha, fui buscar num país, numa grande terra, aonde pouco se havia, aonde tudo vinha da grande Natureza, de onde a abençoada lona que cobria o nosso teto a noite era feita de pele, e foi nesse lugar, aonde os homens brancos chamavam nós de selvagens que eu aprendi a verdadeira medicina, que aprendi a buscar na mata o conhecimento dos remédios, que se cura sem se receber nada em troca, por que também não havia nada em troca para receber, muito mais que isso, havia muita alegria em tirar o guerreiro da maca e colocá-lo de pé de volta.

     Como médico eu fui um selvagem, e como um selvagem eu aprendi a ser médico e o que é a medicina, o que é a vida.

     O Grande Manitu sabe onde cada peça deve estar e como cada peça deve se mexer, dando a cada um uma limitação. A doença tem dois caminhos, ela pode vir de fora, sim, mas quem abre a porta é a cabeça, o livre arbítrio, o comportamento, o outro caminho é o da alma, pois muitas vezes você vê um corpo perfeito, mas nós aqui do nosso lado enxergamos uma alma doente, algumas manchas que já acompanham aquele espírito antes dele nascer nesta terra, o tempo vai fazer com que depois de muitas luas, aquelas manchas saiam do espírito e nasçam no corpo, e é através do corpo que aquele espírito se livrará daquilo que trouxe de outras vidas.

     Guerreira falou umas palavras que assustaram alguns, não é, guerreira?

     - Sofrer faz bem.

     Muitos não entendem isso guerreira, mas muitos entendem, por que guerreira vê que muitos aceitam a grande doença sem revolta? Aceitam por que o espírito já vem preparado de outros tempos, agora muitos não aceitam.

     Como nós escutamos guerreiro Gomide contar um dia, antes de vir para Terra ele recebe um grande papel, vai ter esta doença, esta e esta, muito bem, quando vem para Terra no primeiro resfriado que pega já amaldiçoa tudo, ou seja, não está preparado. A cabeça acha que está forte, mais o espírito está fraco, não estão preparados para carregar a cruz maior do que a vontade deles.

Que o Grande Manitu abençoe a todos!

Urso Branco